As negociações entre países da África e da Europa devem mudar com a abertura da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA), marcada para ocorrer no dia 1 de janeirode 2021, avaliou Carlos Lopes, Carlos Lopes, economista guineense e professor na Nelson Mandela School of Public Governance e alto representante da União Africana (UA) para as Parcerias com a União Europeia.
“Nós temos uma relação com a Europa que é muito dependente em termos de políticas de ajuda ao desenvolvimento ou de ajuda humanitária (…) Nós somos o terceiro parceiro comercial da Europa depois dos Estados Unidos e da China”, pontuou Lopes.
“Somos [parceiros] mais importantes do que o Japão, que toda a América Latina, mais importantes do que a Índia cerca de 3 vezes e, portanto, deveríamos ter uma negociação com a Europa muito diferente daquela que temos. Isto é uma boa demonstração da falta de força [da África] por não haver zona de livre comércio. A partir do momento em que nós tivermos uma vai ser diferente”, acrescentou.
O negociador da União Africana recordou que embora a União Europeia seja o principal parceiro económico do continente, o padrão das relações não é equilibrado, as nações africanas são fornecedoras de matéria prima e importadoras de produtos transformados.
“A África acaba por ir a reboque de medidas comerciais que são tomadas na Europa, por exemplo, os subsídios a agricultura, que depois não permitem que a África possa exportar seus produtos agrícolas para a Europa porque há uma concorrência, entre aspas, desleal.
Lopes lembrou que a África tem interesse em se industrializar e tudo isto passa por protocolos e incentivos que são feitos em forma de tarifas, impostos alfandegários. Estas pautas precisam ser discutidas milímetro a milímetro entre os países”.
“Quando a África se apresenta na Europa com três diferentes [blocos para fazer estas] negociações é evidente que está perdida. Mesmo negociando como um [bloco] tem dificuldade, mas negociando em três [blocos] é muito mais difícil”, concluiu.
Projeções do Banco Africano de Exportações e Importações (Afreximbank) indicam que a concretização da ZCLCA elevará em 35% as trocas comerciais regionais em África, gerando negócios na ordem de 135 mil milhões de dólares, num mercado comum com 1.300 milhões de habitantes.