Ex-dirigente da ONU diz que África deve preparar-se para aproveitar livre comércio, PlataformaMedia,

O antigo secretário-geral adjunto das Nações Unidas Carlos Lopes defendeu hoje em Maputo que os ganhos do livre comércio em África não serão automáticos, apontando a necessidade de os estados se prepararem para tirar dividendos desse mecanismo.

Carlos Lopes referiu-se às vantagens do Acordo de Livre-Comércio Continental Africano (AfCFTA, sigla em inglês), durante uma palestra que proferiu hoje em Maputo sobre o tema “Avanços na integração regional africana: implicações para Moçambique”.

“Um acordo deste género nunca produz ganhos automáticos, mas cria inúmeras possibilidades que só se podem capitalizar com a necessária preparação dos estados”, afirmou Lopes, economista guineense.

Cada estado africano deve elaborar o seu próprio plano nacional sobre as áreas em que pode obter maior rendimento com a liberalização do comércio em África, prosseguiu.

O enorme potencial energético de Moçambique pode ser uma resposta para o défice energético na África Austral

No caso moçambicano, o país pode aproveitar o seu potencial energético, nomeadamente no gás natural e nos recursos hídricos, como trunfos para extrair maiores ganhos na integração económica regional e no livre comércio.

“O enorme potencial energético de Moçambique pode ser uma resposta para o défice energético na África Austral, principalmente da África do Sul, que é uma das maiores potências económicas do continente”, frisou.

Sobre um eventual ceticismo quanto à liberalização do comércio em África, Carlos Lopes apontou a intensificação do comércio intra-africano e a industrialização como uma das vantagens.

“África tem um nível de industrialização bastante limitado, que pode ser galvanizado através da liberalização do comércio”, frisou.

O economista assinalou ainda o papel que a liberdade de comércio pode ter na intensificação de investimentos de empresas africanas, referindo que se verifica uma tendência de maior aposta na circulação de capitais dentro do continente.

“Assistimos a um incremento do investimento africano dentro do continente em contraponto com a erosão do investimento dos investidores tradicionais, que são de fora do continente, nomeadamente EUA e UE”, observou.

A entrada dos operadores informais no setor formal da economia, através da modernização dos quadros regulatórios, e o aumento da cadeia de valor para os pequenos produtores são outros dos benefícios que podem ser gerados pelo AfCFTA, salientou Carlos Lopes.

O Acordo entrou em vigor em 30 de maio de 2019, depois de ter sido ratificado inicialmente por 24 países.

Com o tratado, os estados africanos pretendem estabelecer um enquadramento para a liberalização de serviços de mercadorias e tem como objetivo eliminar as tarifas aduaneiras em 90% dos produtos.

O AfCFTA permitirá criar o maior mercado do mundo com um Produto Interno Bruto (PIB) acumulado a ascender a 2,5 biliões de dólares (cerca de dois biliões de euros).